Mais do que uma simples timidez, mais comum no sexo feminino, a idade em que se estabelece o Transtorno de Ansiedade Social (TAS) é final da infância e início da adolescência, embora o adulto típico não busque ajuda antes dos 30 anos. O atraso se deve em parte ao constrangimento e vergonha que acompanham esse transtorno. Mas também porque na sociedade o "tímido" não é considerado anormal, além disso, devido ao isolamento, a ansiedade social com frequência é menos um problema para outras pessoas do que o é para quem dela sofre. Por isso há menos pressão das outras pessoas para que se busque ajuda.
Situações mais temidas:
- falar em público ou interações mais formais;
- falar informalmente;
- afirmarem o que pensam;
- serem observadas pelos outros.
Pela natureza crônica, muitas pessoas podem acreditar ser inútil buscar ajuda, que o TAS é parte da sua personalidade.
E de onde veio o TAS? Da nossa história evolutiva. Em um ambiente primitivo, havia um claro valor de sobrevivência não ser atacado por outros seres humanos. Ir contra estranhos ou mesmo contra os membros da mesma tribo poderia levar a uma violência inesperada. Portanto, as pessoas adotavam um comportamento submisso, cuja proporção era a de garantir aos outros que você não constituía uma ameaça. Esses comportamentos são exibidos por muitos animais também: por exemplo, um cachorro, ao encontrar outro cachorro dominante (que tenha mais status na matilha), baixa suas orelhas, abaixa-se, olha para baixo, não late e nem mostra seus dentes. O sinal que envia é "não se preocupe, não o estou desafiando". Da mesma maneira, os homens primitivos que não desafiassem os mais agressivos ou dominantes tinham, provavelmente, mais chance de sobreviver. Os mais impulsivos ou agressivos acabavam morrendo antes. Por isso um certo tipo de comportamento passou a fazer parte da personalidade dos seres humanos.
Ninguém chuta cachorro morto ou dormindo.
Quando conhecemos alguém, temos o impulso de sermos gentis (pelo menos, inicialmente). Pode haver uma variedade de motivos por trás disso, mas certamente uma parte tem relação com nossa inata necessidade de nos relacionarmos bem com os outros como estratégias de sobrevivência. As pessoas com Ansiedade social levam esse comportamento muito além do necessário. Apesar dos seus comportamentos de segurança, continuam a temer o fato de serem criticadas ("atacadas") pelos outro; ou evitam qualquer interação social para evitar o confronto. A genética estaria presente em cerca de 17%, mas o histórico familiar conta bastante. Mesmo com a predisposição, a dinâmica familiar influencia o fato de você desenvolver ou não o transtorno. As famílias tendem a ter histórico de conflitos retidos, isto é, havia tensões em casa, mas ninguém foi estimulado a expressar qualquer sentimento. Pais ansiosos tendem a não estimular seus filhos a interagir com os outros, é como se fosse um treinamento para a timidez. Os pais de filhos mais tímidos tendem a ser mais CONTROLADORES E CRÍTICOS, e apoiarem menos os seus filhos. As crianças tendem a internalizar as explicações dadas por seu pais para seu comportamentos e, inevitavelmente, a se condenarem por isso.
Genética + Ambiente
Pacientes com esse transtorno tendem a criar suas circunstâncias de isolamento. Esse isolamento reforça a crença de que elas serão rejeitadas. A essência do pensamento do TAS é o medo de ser avaliado negativamente pelo outro. Esse medo e o que torna o encontro social repleto de ansiedade: falar em público, pedir informações em geral, sair para jantar, se aproximar de pessoas do sexo oposto, fazer pedidos, usar o banheiro ou vestiários públicos, falar em sala de aula, fazer ligações telefônicas, ser apresentado à pessoas novas, reuniões, entrevista de emprego, apresentações. Em qualquer uma dessas ocasiões é possível imaginar a possibilidade de tropeçar, falar mal ou parecer um bobo e de que as pessoas vão criticá-lo ou desprezá-lo. Esse comportamento (o pensamento), produz mais ansiedade e nervosismo que podem atrapalhar na hora de se comunicar, reforçando esses pensamentos. Ai o sujeito evita situações que possam gerar esses sentimentos, se isolando. Isso gera tristeza, mas a tristeza do isolamento, na visão do paciente, gera mais segurança do que interagir com pessoas.
Indivíduos com Ansiedade Social vão se acostumando com o isolamento.
Esse transtorno tem uma maneira de pensar que podemos descrever como foco excessivo em si mesmo. Tende a ter uma visão negativa de si mesmo e se tornar muito autocrítico. Quando chega em uma festa, não presta atenção nas pessoas, mas no que ele parece ser para elas. E imagina que os outros sentem por ele um desprezo, que na verdade é um desprezo que ele sente por si mesmo. Gerando DISTORÇÕES COGNITIVAS.
Então, vai distorcer as percepções do que está acontecendo com outras pessoas. Não aprende nada sobre o outro e nem expressa nenhum interesse por ele. Vive em um mundo centrado em si. E esse mundo é repleto de regras como:
- Se não conseguir, é porque sou inferior.
- Se eu não tiver a aprovação dos outros, ficarei sozinho.
- Há uma maneira certa e perfeita de fazer as coisas socialmente.
Acreditam que se preocupar com as interações pode ajudar a evitar que algo de ruim aconteça:
-Se eu me preocupar com isso, poderei ser capaz de encontrar um jeito de garantir que não farei papel de bobo.
-Se eu me preocupar, poderei me planejar com antecedência e praticar o que farei,
-Minha preocupação vai me preparar e me proteger.
E com isso passam a adotar certos comportamentos para se sentirem mais seguros, como:
- se eu beber algumas doses, terei melhor desempenho.
- se eu olhar para o chão não precisarei cumprimentar ninguém.
- se eu não perguntar, não corro o risco de falar bobagem.
Infelizmente esses comportamentos de segurança são distorções que só fazem as coisas piorarem. As pessoas com TAS tendem a não sorrir muito e ter uma baixa auto estima, devido a visão distorcida de si mesma, acreditando que são insuficientes e focando sempre em suas fraquezas. Esse olhar para si com uma lente em suas fraquezas e dificuldades, associado ao pensamento de sempre estar sendo julgado negativamente pelo outro, faz com que se isolem e fiquem cada vez mais reservados, reforçando a sua crença de incapacidade. O modo de pensar, apesar de gerar um alívio imediato, por se isolar e não precisar se relacionar com as pessoas, só afasta as pessoas, não ajuda a desenvolver estratégias de enfrentamento, como regulação emocional e habilidades sociais, reforçando o sentimento de insuficiência e aumentando a ansiedade.
Algumas das formas distorcidas de pensar do indivíduo com ansiedade social:
1) Leitura da mente: ficam o tempo todo pensando o que se passa na cabeça dos outros, tentando adivinhar, mas sempre que elas estão julgando negativamente cada passo que dão.
2) Previsão do futuro: sempre negativos, que não vai dar certo, que vai passar vergonha, etc.
3) Desconto dos aspectos positivos: enquanto o lado negativo do seu comportamento chama muita atenção do paciente, suas qualidades, talentos ou acertos durante as interações sociais são sempre menosprezadas ou nem são percebidos.
4) Personalização: "Isso só acontece comigo." A pessoa com ansiedade social tenta a achar que só ela fica nervosa ao falar em público, ao tentar puxar assunto, e muitas vezes nem percebe quando encontra outro colega que também sofre com o mesmo problema, às vezes na mesma sala ou ambiente de trabalho.
Entender e aceitar o que se tem é o primeiro passo para mudança.
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