O Luto
- Larissa Amaral Psicóloga
- 26 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 1 de out. de 2024
É um processo de readaptação da realidade sem a pessoa amada, que se foi ou está indo.
É um ciclo que se fecha e outro que se inicia, sem pedir licença.
É o rompimento do vínculo afetivo, caracterizado principalmente pela emoção TRISTEZA, e ela provoca uma dor que, ao mesmo tempo nos une, sendo que todos, em algum momento da vida iremos passar pelo sofrimento de “perder alguém” que amamos; também é tão singular, um sentimento único, mesmo entre irmãos que perdem o mesmo pai, ou pais que perdem um filho. O vínculo entre dois seres humanos é ÚNICO, a história e a forma como cada pessoa irá com a perda é singular.
Hoje vivemos em um momento da humanidade, com o avanço da ciência e das tecnologias, que o aumento da expectativa de vida provocou um afastamento natural da morte no cotidiano. Ela não força mais sua presença, foi ficando menos frequente, os velórios, que são despedidas dos familiares, um rito de passagem importante para a assimilação, pela nossa mente, do que está acontecendo, um convite delicado para a realidade, começaram a ser realizados longe do ambiente familiar, em um local neutro, possibilitando a escola de ir ou não até lá. Foi se tornando desconhecida e cada vez mais indesejada, esquecida muitas vezes por um tempo, como se ela pudesse ser uma escolha, virando assim um tabu. Somado ao atual momento da nossa sociedade, que tem sido o:
“Se mantenha jovem”,
“Aproveite o momento”,
“Produza mais” e “busque sempre o prazer”.
Vamos nos afastando do que nos torna mais humanos: A finitude da vida; que mesmo chegando mais tarde, ainda chega, e pode “nos pegar de calça curta”.
Falar sobre a morte foi se tornando algo desagradável e até indesejável, sendo desencorajado socialmente.
Vamos mudar de assunto, você é muito jovem para pensar nessas coisas.
Que assunto mais mórbido, vamos conversar sobre algo mais alegre.
Está tudo bem com você? Fica querendo falar sobre a morte.
As crianças, que antes participavam dos velórios naturalmente, que aconteciam no próprio ambiente familiar, hoje são poupadas de qualquer contato com a morte, mas quando isso não é possível, falam que o ente querido virou uma estrelinha no Céu. Tiraram a possibilidade das crianças de encararem desde cedo a naturalidade da morte, de não se sentirem sozinhas durante as fases do luto, mas seria pôr os adultos acreditarem que seria “demais” para elas ou por ser “demais” para os próprios adultos?!
Talvez os privando do luto compartilhado, de encarar o sofrimento juntos e preparando gradualmente a morte como parte da vida, propiciando uma experiência que pode ajudá-las a crescer e amadurecer.
Mas não tendo esse contato gradual, formando conscientemente nossas crenças sobre a morte para nós e para o mundo em que vivemos, e o que pode acontecer quando alguém que amamos não estiver mais presente, como vamos nos preparar para quando o momento chegar?
Como nos preparar para algo que vivemos fugindo ou fingimos não existir?
E, por que isso?
E por que ela nos assusta tanto?
Porque ela segue sendo um mistério. Embora existam muitas crenças ligadas a diferentes religiões que tentam explicar o que acontece após morrermos;
Nos deixa vulneráveis, escancara nossa fragilidade e dependência do outro, mostra que no autonomia tem limites e que não podemos estar sempre no controle, natural, mas a incerteza de quando, como e quem pode morrer, nos gera ansiedade, medos e preocupações que buscamos evitar;
Desperta emoções desagradáveis, como a dor da saudade, o medo do desconhecido, da solidão.
E parar para pensar? Não tenho tempo, preciso estar sempre produzindo, sonhando com o que conquistarei quando produzir e gozando do que produzi.
A forma como a morte ocorre pode influenciar diretamente o processo do luto, seja na intensidade ou na duração dos sintomas. Quando ela ocorre devido a alguma doença degenerativa ou uma morte natural e esperada, as pessoas possuem um tempo maior para se preparar e até se conformam mais rapidamente com a partida do ente querido. O luto antecipatório é bastante encontrado nesses casos, pois as pessoas passam a ter sintomas de raiva, depressão, ajustes de papéis familiares, que costumam ser facilitadores da vivência do luto. Já com as perdas súbitas, o processo de elaboração do luto se torna mais complexo. Mortes devido a um acidente automobilístico, suicídio, Acidente vascular encefático (derrames), etc., têm o elemento surpresa, gerando mais dificuldade para elaborar o luto, aceitar o acontecimento e produzindo uma carga emocional mais intensa e imediata. Pode gerar mais culpa, remorso, tentativas de racionalizar e entender o que aconteceu, na busca por alívio da dor.
O grau de parentesco, o vínculo com a pessoa, o tipo de morte e os recursos internos que o indivíduo dispões, possibilitam ou não a elaboração do luto normal.
Não podemos escolher se vamos ou não passar pelo luto, não temos esse poder de escolha, ele aparece quando quer e como quer. Mas podemos escolher como vamos passar por esse processo complexo, cheio de emoções e mudanças. E isso é fundamental que a pessoa vivencie essa experiência para aceitar a perda e fazer mudanças que permitam com que ela siga em frente, de modo que consiga reorganizar e refazer sua vida, sem se perder no sofrimento.
E nesse processo você não está sozinho, a Psicoterapia pode te ajudar a expressar o que está sentindo, dar significado ao que te aconteceu e te guiar de uma maneira mais saudável por essa estrada tão comum a todos, mas ao mesmo tempo, tão individual. Aprendendo a conviver com a saudade e descobrindo novas formas e momentos de felicidade.
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